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José Roberto Graiche Júnior*

 

A busca pelo consenso e bem-estar dos moradores é uma das principais funções da gestão condominial. Para que esse objetivo seja alcançado, saber mediar conflitos entre vizinhos no dia a dia do convívio coletivo é fundamental. Principalmente agora, depois de um 2020 marcado pela pandemia de Covid-19 que afetou de alguma forma a vida das pessoas dentro e fora de casa, é importante estar atento para as novas dinâmicas e demandas nos condomínios.

Tanto os síndicos, quanto as empresas administradoras, constataram mudanças nos tipos de reclamações e aumento de queixas reportadas. Conflitos mais comuns relacionados a problemas hidráulicos, uso de áreas comuns e das garagens deram lugar a questões ligadas a aumento de barulho, a maioria em razão do isolamento social que levou moradores a passarem mais tempo em casa, seja trabalhando em home office ou estudando online.

A permanência maior nos apartamentos intensificou, também, a percepção sobre a circulação de pessoas nos condomínios, principalmente de prestadores de serviços. Nesse período, houve ainda aumento de obras e reparos nas unidades. Com o ruído excessivo, não demorou para que surgissem divergências e as queixas se multiplicassem.

Diante de situações novas e desafiantes como essa, atuar rapidamente promovendo o diálogo, individual ou entre as partes, continua sendo uma das melhores saídas para resolver situações. Nesse cenário, o papel conciliador do síndico faz a diferença e contribui para a redução dos desgastes entre moradores.

É essencial que o síndico e os funcionários sejam capacitados para saber como agir em ocasiões de conflito, principalmente as que envolvem violência. O ano de 2020 trouxe à tona casos críticos de violência doméstica contra mulheres, idosos e até crianças. O confinamento obrigou as vítimas a permanecerem próximas dos agressores, potencializando a violência e, em alguns casos, dificultando os meios de denúncia. O tema foi parar no Congresso Nacional e Senado, onde tramitam ações e medidas para combater o problema.

A Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC) trata essa questão desde antes da pandemia. O reforço da comunicação e a criação de procedimentos têm sido um trabalho importante para até mesmo evitar tragédias. Além de elaborar materiais e campanhas, a entidade promoveu eventos para discutir o problema, como o painel com especialistas no encontro digital do Conexão Conami 2020 ocorrido em outubro.

O fato é que os condomínios reverberam o que acontece na sociedade. Portanto, criar uma cultura de respeito, ainda mais em um contexto de coletividade, deve ser uma prioridade recorrente para a comunidade. Sempre que necessário, é importante estimular as pessoas a se adaptarem e reconhecerem a importância da convenção e do regulamento interno, bem como dar espaço para que os moradores pontuem problemas e tirem dúvidas em assembleias.

Todos nós ainda estamos sentindo os efeitos da pandemia, passando por fases diferentes da quarentena e respeitando medidas sanitárias. Lidar com essa rotina e, ao mesmo tempo, buscar tranquilidade e segurança são tarefas que dependerão em grande parte de diálogo. Os conflitos entre pessoas são naturais, pois compartilhar espaços significa conviver com experiências, formações, opiniões e valores diferentes. Mas o condomínio também é um lugar com direitos, deveres e abertura para se ajustar às dinâmicas da sociedade. Com a cooperação de síndicos, moradores e administradores, ganham todos os envolvidos.

 

 

* José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo

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