O dilema das escolas fechadas e o impacto no mercado de aluguel

José Roberto Graiche Júnior*

 

Nesta época de pandemia do novo coronavírus, um dos maiores desafios dos governos é definir a retomada das atividades escolares. Protocolos de segurança podem minimizar os riscos, mas existem preocupações como o fato de crianças e jovens em idade escolar poderem propagar o vírus, além do efeito cascata que o aumento de circulação de pessoas pode vir a causar.

Sem dúvida, o retorno às escolas e faculdades é uma situação dramática e pede cautela. Contudo, uma questão importante que se soma ao atraso na retomada das aulas presenciais é o impacto que a baixa atividade do setor de ensino causa em setores relacionados e na economia. No caso do mercado imobiliário, o impasse acaba tendo consequências na locação de imóveis.

Em julho, a Associação das Administradoras de Bens e Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC) realizou um levantamento sobre a taxa de ocupação considerando todos os perfis de imóveis para locação. A pesquisa apurou que a vacância no Estado atingiu 24%, sendo aproximadamente 33% destes imóveis destinados à locação comercial. Podemos inferir que parte significativa desses imóveis desocupados reflete a falta de perspectiva de retorno dos cursos presenciais, de graduação, especialização e ou de ensino em geral, aliada aos efeitos da crise econômica provocada pelo novo coronavírus.

Primeiramente, a suspensão das aulas afetou a decisão de inúmeras famílias que se esforçam para manter o aluguel dos filhos que estudam em outros domicílios. Sem previsão de volta à normalidade, muitos locatários preferiram deixar a decisão de uma nova locação para o período pós-reabertura. É importante lembrar ainda que estamos lidando com as novas gerações, que são avessas a burocracias, são desapegadas e mudam de lugar facilmente.

Em situação semelhante, encontram-se as empresas e os estabelecimentos do entorno ou ligados ao universo escolar. Sejam restaurantes, lanchonetes, papelarias ou confecções de uniformes, nenhum comércio ou negócio que depende da atividade escolar tem fôlego para se sustentar com uma restrição de funcionamento tão prolongada.

Para suportar as oscilações e a inadimplência, ao menos a liberdade de negociação do mercado de aluguel propicia mais renegociações entre proprietários e inquilinos, com acertos de abonos e descontos provisórios. O Índice Periódico de Mora e Inadimplência Locatícia (IPEMIL), medido pela AABIC, sinalizou estabilidade na inadimplência de aluguéis, com o percentual de 4,08% em agosto, inferior aos 4,25% de julho.

Num âmbito maior, outro sinal positivo da flexibilidade econômica é o resultado obtido com abertura gradual de outros setores. De acordo com a Secretaria da Fazenda de São Paulo, agosto registrou um aumento na arrecadação do ICMS, com a receita tributária do Estado somando R$ 13,69 bilhões, avanço de 3,6% nominais ante o mesmo mês de 2019.

Aos poucos, a movimentação das atividades demonstra ser possível trazer um pouco de alívio. Se feita com responsabilidade e conscientização, seguindo protocolos de segurança sanitária, é possível continuar acompanhando os esforços no combate ao coronavírus, como o avanço dos estudos para uma vacina, além de mitigar o risco de contaminação e baixar a ansiedade e as incertezas da população.

O setor de aluguel não vislumbra uma nova crise, pois é um mercado que tem demonstrado capacidade de reação até agora. De qualquer modo, todo o mercado dependente de alguma forma do setor escolar e pode ser fortemente prejudicada enquanto caminhamos para mais de 200 dias sem aulas. . Torçamos que nunca seja tarde para se evitar maiores prejuízos.

 

 

* José Roberto Graiche Júnior é presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC)